sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

Moção de apoio da CONEP as famílias do Pinheirinho e repudio a Reintegração de posse

A ocupação do Pinheirinho, que se localizava em São José dos Campos no terreno da massa falida da empresa Selecta do empresário Naji Nahas, ocupada desde 2004, era a maior ocupação urbana da América Latina contando com aproximadamente 2 mil famílias. Neste domingo dia 22/01/2012 foi desocupada pela Policia Militar, mesmo após uma ordem Judicial que suspendia a desocupação por 15 dias, expedida no dia 18/01/2012 .

Neste domingo, um direito básico garantido em constituição foi desrespeitado: o direito à moradia. Porém, não é só de leis que estamos falando, pois o que está em jogo é o futuro de cada uma das famílias que agora estão sem um lar. Um direito como a da moradia é muito mais importante do que qualquer outro interesse como especulação imobiliária, interesses privados ou qualquer outra finalidade que venha a beneficiar à poucos desta sociedade. Beneficiados ao ponto de ter cerca de 2000 PMs, de 33 distritos da região, carros blindados, cavalaria, cães e dois helicopteros ao seu lado – toda essa truculência por parte da polícia para expulsar os moradores de seus lares, para tirar o pouco dos que já tem pouco, para legitimar esta sociedade desigual.

Por isso, repudiamos o uso da força policial truculenta na expulsão da população de suas casas, a falta de estrutura social para auxiliar a população, a ausência do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), nas tentativas de negociações realizadas. Todo apoio aos moradores da ocupação do Pinheirinho, contra o massacre, pelo direito a moradias!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Escreva Lola Escreva: A LINDA PELE QUE HABITAMOS

Escreva Lola Escreva: A LINDA PELE QUE HABITAMOS: Uma pessoa fisicamente linda assiste a outra. O mais recente filme de Pedro Almodóvar é o máximo . Aliás, o diretor espanhol é o máximo, ...

domingo, 11 de setembro de 2011

Estamira

Estamira, presente!

Por César Fernandes, de Curitiba

estamiraNo dia 27 de julho, Estamira Gomes de Souza, mulher negra da classe trabalhadora, catadora de lixo no Aterro do Gramacho (Rio de Janeiro) nasceu ao contrário. Tinha 72 anos e morreu cansada, mal cuidada e principalmente: não ouvida (paradoxalmente tão escutada no mundo inteiro). A protagonista do filme que leva seu nome, dirigido por Marcos Prado e lançado em 2004 agonizou por horas no Hospital Miguel Couto, na Gávea, desassistida pelo SUS e incapaz – como a imensa maioria dos trabalhadores – de comprar sua assistência em um hospital particular.

Os trocadilos apontam que a razão de sua morte se chama 'septicemia', uma infecção generalizada. Poderiam dizer que por ter transtornos mentais, Estamira deveria ter sido assistida em um asilo, ou um hospital/hospício psiquiátrico para que de lá não saísse e morresse em paz, longe do lixo, das moscas, longe da família, longe daquele mar que lhe era tão importante. Do outro lado, os que acreditam cegamente nos governos, acreditam que a construção da rede de atenção psicossocial substitutiva à lógica manicomial está consolidada, amplificada e atuante. Não desconsideramos os avanços da instalação da rede, determinada pela lei 10216/2001. Mas, como Estamira nos alertou: existe esperteza ao contrário, não inocência.

De toda forma, Estamira passou sua vida em pé, trabalhando, replicando sua existência dentro dum lixão, desatenta aos levantes manicomiais de empresários-da-saúde-mental que discorrem trocadilos sobre técnicas arcaicas repaginadas, assistência integral, novos medicamentos, cuspindo cifras.. Alheia aos professores de Psicologia que passam o filme nas aulas e todos saem das salas com mal estar, surpresos, com pena. No ano que vem, uma nova turma assistirá sua história. Tudo bem: esta arte nos permite a distância, a contemplação, o não envolver-se e o não implicar-se.

Escutamos Estamira e observamos mais uma que sofre numa massa de trabalhadores negros, homens e mulheres que apodrecem todos os dias. Estamira é apenas mais uma entre os milhares de loucos da classe trabalhadora que já não valem mais nada ao sistema do capital e que por isto – e só por isto – são jogados no lixo para se confundirem ao inútil e ao descuido nos aterros e favelas do país.

O cinismo deste sistema traveste seu discurso delirante, denunciativo, agressivo e violento em “poesia”, “uma forma atípica de expressão”, “obra de arte”. Esta forma de arte não nos importa. Não queremos lembrar de Estamira apenas quando seu filme recebe mais um prêmio internacional. Acreditamos que não basta lamentar sua morte em cento e quarenta caracteres, num pio. Reivindicamos a vida e obra produzida ao longo dos dias de vida de Estamira. Com todos os seus direitos humanos negados, todos os serviços de saúde de má qualidade, sua péssima condição de moradia, seu trabalho precarizado, a educação negada. Seus e de todos os trabalhadores.

Não nos interessa a mera constatação de que algo vai errado. Interessa a luta pela efetividade da atenção à saúde mental no Brasil. Interessa a consolidação de equipes multidisplinares, a efetivação da Reforma Psiquiátrica, a redução de danos, a porta aberta nos equipamentos, a defesa intransigente de uma vida digna e sem desigualdade social para todos os trabalhadores. Lutando, honramos Estamira e todos os seus irmãos e companheiros desconhecidos, que nunca estrelarão um filme mas que também querem visitar o mar.

Estamira! Mulher negra, resistente, trabalhadora!

Presente!

César Fernandes é psicólogo militante da luta contra os manicômios e pela construção do socialismo.